GRADIENTES EM MERGULHO: EVOLUÇÃO, APLICABILIDADE E PERSPECTIVAS CIENTÍFICAS

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Por Luiz Cláudio S Ferreira (DiveOps Nr 20)

 

 

O conceito de gradientes em mergulho está diretamente relacionado à fisiologia da descompressão e aos modelos matemáticos que buscam prever a absorção e eliminação de gases inertes. Desde os primeiros estudos sobre descompressão até os modelos atuais, os gradientes têm sido essenciais na formulação de tabelas e estratégias para minimizar a doença descompressiva (DD).

A ideia de gradientes pressóricos surgiu com Paul Bert (1878) e John Scott Haldane (1908), que estabeleceram a base para os modelos dissolutivos. Haldane introduziu o conceito de compartimentos de meia-vida e o fator de supersaturação de 2:1. Robert Workman (1965) aprimorou essa abordagem ao desenvolver os fatores de gradiente (GF), conceito expandido por Eric Baker (1999) para ajustes mais precisos na computação do mergulho técnico.

Os modelos de descompressão atuais incluem dissolutivos, como o algoritmo Buhlmann ZH-L16, de bolhas, como RGBM e VPM, e híbridos, como VPM-B e ZH-L16 com GF. Modelos dissolutivos assumem eliminação uniforme dos gases, enquanto modelos de bolhas incorporam controle de crescimento de microbolhas e ajustes conforme a exposição prévia do mergulhador.

A aplicação dos gradientes varia conforme o perfil do mergulho e as condições específicas da operação. Em mergulhos recreativos (<30 m), fatores de gradiente elevados (GF 80/80) reduzem o tempo de descompressão, enquanto em mergulhos técnicos (>50 m), um ajuste mais conservador, como GF 30/70, otimiza a segurança sem prolongar excessivamente as paradas. No caso de mergulhos com rebreather (CCR), a gestão da toxicidade do oxigênio e a eficiência da eliminação de CO₂ podem demandar ajustes específicos nos gradientes. Já em mergulhos profundos (>100 m), a escolha entre GF 20/85 ou um fator mais aberto, como 35/80 [Foto 1], depende de fatores como tempo planejado no fundo, logística de gases e suporte externo, além do controle da exposição a ambientes hostis. A decisão sobre o gradiente adequado deve sempre considerar a necessidade de equilíbrio entre segurança e eficiência, adaptando-se às demandas fisiológicas e operacionais de cada mergulho, bem como a própria experiência do mergulhador.

Foto 1

O conceito de fatores de gradiente pode ser visualizado em um gráfico que ilustra a relação entre a pressão dos gases inertes nos compartimentos teciduais e a pressão ambiente ao longo da ascensão. Como mostrado na figura, o fator de gradiente alto (exemplo: GF 30/80) influencia diretamente o ponto de partida da descompressão, permitindo ajustes conforme o perfil do mergulho. A linha M-value representa o limite teórico seguro para a eliminação dos gases inertes, enquanto a linha de pressão ambiente demonstra a variação da pressão durante a subida. A escolha de GFs mais conservadores amplia a margem de segurança ao limitar a taxa de liberação dos gases dissolvidos, reduzindo o risco de doença descompressiva. Dessa forma, a correta aplicação desses fatores possibilita um equilíbrio entre eficiência e segurança na descompressão, conforme discutido nas estratégias apresentadas [Foto 2].

Foto 2

A escolha do modelo de descompressão, portanto, influencia diretamente a aplicabilidade do gradiente. Modelos dissolutivos tendem a ser mais previsíveis para mergulhos recreativos e técnicos convencionais, enquanto modelos de bolhas oferecem maior eficiência para mergulhos profundos e prolongados. No RGBM, por exemplo, a microbolha tem papel fundamental no ajuste da descompressão, enquanto no ZH-L16, a saturação tecidual é o principal fator. Modelos híbridos equilibram essas abordagens, permitindo perfis de subida mais flexíveis.

A fórmula básica para determinar a pressão tolerável de um tecido antes da liberação controlada de gás é: Modelos como RGBM adicionam correções para a presença de microbolhas, enquanto ZH-L16 utiliza compartimentos fixos para prever a saturação e eliminação de gases. Em mergulhos profundos com rebreather, eficiência do scrubber e taxa de consumo de oxigênio também influenciam diretamente a aplicação de gradientes.

A escolha entre modelos dissolutivos e de bolhas deve considerar profundidade, tipo de mistura respiratória e taxa de eliminação de gases. No uso de rebreathers, ajustes precisam evitar hiperóxia. Em perfis com múltiplos mergulhos sucessivos, modelos híbridos podem ser mais eficazes ao considerar acúmulo de gases ao longo de várias exposições.

Contudo, ainda há lacunas científicas relevantes, como a comparação experimental entre diferentes modelos de descompressão em mergulhos profundos, o impacto da hipercapnia na eliminação de gases e ajustes nos fatores de gradiente, além do desenvolvimento de algoritmos híbridos que combinem os melhores aspectos de cada modelo. Pesquisas sobre modelos probabilísticos de descompressão e personalização de algoritmos baseados em fisiologia individual são promissoras.

Em síntese, os gradientes são essenciais no planejamento da descompressão, e a escolha entre modelos dissolutivos e de bolhas deve considerar o perfil do mergulho e segurança adicional necessária. O conhecimento aprofundado e a correta aplicação desses parâmetros são fundamentais para garantir a segurança do mergulhador, especialmente em mergulhos extremos, onde pequenas variações podem significar riscos elevados. O domínio dos fatores de gradiente permite o desenvolvimento de estratégias mais eficientes e adaptáveis a diferentes condições, minimizando riscos fisiológicos e otimizando a eficiência da descompressão. Para mergulhadores técnicos, compreender e aplicar esses princípios não apenas aumenta a segurança, mas também amplia as possibilidades de exploração em ambientes subaquáticos desafiadores.

 

Author
Luiz Cláudio da Silva Ferreira
CMAS Instructor # M3/10/00001
PADI Tec TRIMIX/DSAT Instructor # 297219
DAN Instructor #14249
#007.615.457-27

Certificações:

CMAS Instructor #M3/22/0002
PADI Specialty Diver – Advanced UW Digital Photographer

Warner Versiane

Natural do Rio de Janeiro, Warner descobriu sua paixão pelo mergulho em 2000, durante uma viagem à Ilha Grande/RJ, onde realizou seu primeiro mergulho recreativo. Encantado pela experiência, buscou imediatamente se capacitar no esporte, concluindo o curso Open Water no mesmo ano. Nos anos seguintes, aprofundou seus conhecimentos e habilidades ao realizar cursos avançados, consolidando sua paixão pelo mundo subaquático.

A dedicação à prática recreativa foi o alicerce para sua transição ao mergulho profissional. Em 2010, tornou-se Dive Master e, em 2018, instrutor pela CMAS (Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas). Atualmente, Warner integra a equipe do Grupo de Mergulho Estácio de Sá (GMES), onde encontra sua maior realização ao ensinar novos mergulhadores. Sua metodologia reflete o compromisso com a segurança e o respeito ao ambiente subaquático, enfatizando o planejamento e a superação pessoal como pilares para o sucesso no mergulho.

Certificações:

CMAS Instructor #M3/22/0001
PADI Specialty Diver – Advanced UW Digital Photographer

Victor Saldanha Guimarães

Natural do Rio de Janeiro, Victor iniciou sua trajetória no mergulho em 2012, após uma experiência de snorkeling em Ilha Grande/RJ que despertou sua paixão pelo universo subaquático. Motivado por essa vivência, concluiu o curso Open Water em março de 2013 e, logo depois, uniu-se ao GMES, onde realizou o curso Advanced Open Water em maio do mesmo ano. Os anos seguintes foram marcados por intensa dedicação à prática recreativa, que o inspirou a buscar novos desafios e alcançar o nível profissional como Dive Master em 2017.

Sua jornada profissional no mergulho consolidou-se em 2021, quando se tornou instrutor pela CMAS (Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas). Atualmente, Victor atua como instrutor do Grupo de Mergulho Estácio de Sá (GMES), onde incorpora os valores da escola e encontra realização ao conduzir cursos de iniciação, como o Open Water. Alinhado com a metodologia de seu mentor, enfatiza a superação pessoal e a segurança, acreditando que o risco deve ser gerido com planejamento detalhado e respeito ao ambiente subaquático.

Certificações:

Diver Medic Technician – IMCA Certified
ROV Pilot – UNDERWATER Training & Competence Solutions
Certificação ABENDI SM-PE-N2-G – SNQC-31954
Mergulho Profissional Raso – SENAI/RJ
Suporte Básico à Vida para Mergulhadores – SENAI/RJ
Inspeções END e técnicas avançadas de medição por espessura e potencial eletroquímico.

 

Ezequias Pereira Silva

Natural do Pará, Ezequias iniciou sua carreira profissional no Exército Brasileiro, onde atuou como Cabo entre 2007 e 2015, acumulando experiência em disciplina, organização e operações de alta responsabilidade. Em 2014, ingressou no mergulho profissional, especializando-se em inspeções submarinas e ensaios não destrutivos (END), consolidando sua trajetória em engenharia subaquática e suporte técnico offshore.

Atualmente, Ezequias é Mergulhador Profissional pela Oceânica Engenharia e Consultoria S.A., onde desempenha atividades em operações offshore, incluindo inspeções de FPSOs (Floating Production Storage and Offloading), pull-in/pullout e manutenção de estruturas submersas. Com certificações em ROV (Remotely Operated Vehicle), técnicas de ensaio por potencial eletroquímico e medição por espessura, além de formação como Diver Medic Technician (IMCA Certified), ele se destaca por sua precisão técnica e compromisso com a segurança subaquática.

Marco Antônio Soares de Souza

Nascido em Niterói (RJ), é instrutor de mergulho autônomo três estrelas pela CMAS, com mais de 20 anos de experiência na área.
Além de sua qualificação como instrutor, possui certificações técnicas em NITROX, Rescue Diver pela PADI e Mergulho em Cavernas pela IANTD, destacando sua versatilidade e dedicação às especializações no mergulho autônomo.
Com uma vasta experiência em mergulhos realizados no Brasil e ao redor do mundo, formou inúmeros mergulhadores, sempre priorizando a segurança, o respeito aos protocolos e a preservação do ambiente aquático como pilares fundamentais e indissociáveis do processo de formação.
Sua paixão pelo mergulho é inspiradora e reflete-se no compromisso contínuo com a formação de mergulhadores conscientes e preparados.

CMAS Special Instructor #M3/21/0006
TDI Cave # 224550


CMAS Instructor #M3/21/0005
PADI Tec Trimix /DSAT /Public Safe Diver Instructor #297219
SSI Specialty Instructor #54379
HSA Instructor #1-3098
IANTD CCR Megalodon #114922
DAN Instructor #14249
TDI Full Cave #835611

Luiz Cláudio da Silva Ferreira

Nascido no Rio de Janeiro, iniciou sua trajetória no mergulho ainda como cadete da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde se formou oficial do Exército pela Turma de 1991. Sua jornada profissional no mergulho consolidou-se a partir de 2008, como instrutor pela PADI (Professional Association of Diving Instructors), SSI (Scuba Schools International) e CMAS (Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas). Desde então, acumulou qualificações técnicas, incluindo certificações como instrutor de mergulho adaptado pela Handicapped Scuba Association (HSA), mergulho de segurança pública, especialista em rebreather Megalodon e mergulho em cavernas pela IANTD, entre outras.
Fundador do Grupo de Mergulho Estácio de Sá (GMES), encontra sua principal realização nos curos de iniciação (Open Water), enfatizando a superação pessoal e a segurança. Para ele, o risco deve ser gerido com planejamento meticuloso e respeito ao ambiente subaquático, marcas de sua metodologia.